terça-feira, 21 de maio de 2013

O DSM não é tão vilão assim

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A Eliane Brum é uma ótima articulista - de acordo com minha opinião "colifórmica" que provavelmente não é muito qualificada para julgá-la - mas acho que quando ela e outros resolvem criticar o DSM o que vem é uma "chuvarada" de senso comum e precipitações. Sim, esse novo DSM (o manual que contém todos os transtornos psiquiátricos catalogados até então) contém muito mais transtornos, de forma que facilmente o leitor desavisado pode ler e já ir se encaixando em algum perfil lá dentro. Mas o que isso significa? A resposta se entrelaça com a própria intenção por trás do DSM: o manual existe para que os psiquiatras do mundo todo possam agir uniformemente à respeito de diagnósticos e tratamentos. É uma mera formalidade necessária se não quisermos criar uma clínica extremamente subjetiva em que vale tudo em termos de tratamentos, teorizações e etc e que ao mesmo tempo, por tanta diversidade, não se chega a lugar algum nem prática nem teoricamente. O manual não serve para que compre cada cidadão o seu exemplar e saia por aí se diagnosticando, como se fosse um horóscopo do jornal de domingo.

No entanto, apesar dessa minha crítica, acho sim muito importante pensar sobre o crescimento exponencial dos transtornos. O que isso significa? Será que não estão tomando como base uma população utopicamente normal e padronizada e classificando qualquer diferença como patológica? Pode ser, mas eu arrisco dizer que essa não é a resposta, pelo menos não em muitos casos. Um dos elementos que entram nessa equação diagnóstica e que raramente os críticos notam, é que alguém só será classificado como "doente" quando procurar um psiquiatra. E se ele procura um psiquiatra ou psicólogo, é porque existe algo errado. Não existe um serviço de atendimento à domicílio em que o médico ou o terapeuta em pessoa vai na casa da pessoa e transforma-a em paciente, batizando-a com um novo transtorno. Então, podemos partir do princípio de que o ponto principal antes de haver um diagnóstico é o sofrimento. Se você é um acumulador compulsivo de tralhas, que esperneia toda vez que se vê obrigado a se desfazer de algo, que arruma confusão com os outros por causa disso, que sofre intensamente para cultivar seus pertences - muitas vezes inúteis -, acho que você tem um transtorno.


Se sua casa está assim, não acho que isso seja SÓ um jeito diferente de ser. No mínimo, isso é um jeito diferente de ser que está te fazendo sofrer.
E, também, isso não quer dizer que você vai ter que se encher de remédios. Quer dizer que terá que se engajar em algum tipo de terapia para tentar deixar essa fixação. Nem que essa terapia seja um bom número de sessões em que você só conte um pouco de si para o profissional que lhe escutará e tentará ver se há uma questão subjacente a esse comportamento, ou se é apenas uma questão de condicionamento e etc.Mindfulness é uma outra boa opção. A prática de meditação faz com que nos tornemos mais conscientes das nossas emoções, pensamentos, e, em geral, como nossa mente funciona e como reagimos aos eventos. Isso seria ótimo, à princíio, para qualquer pessoa diagnosticada com um transtorno - até para quem não tem nenhum.

Os críticos diriam que a coisa não é bem assim, afinal, o psiquiatra vai fazer de tudo para passar um remedinho. Bom, aí é outra história. Existem psiquiatras e psiquiatras. O risco de pegar um exemplar ruim desse profissional é o mesmo de iniciar uma rotina de musculação e ser acompanhado por um instrutor que irá lhe deixar com uma enorme escoliose. Não seria justo se você saísse por aí afirmando irrefletidamente que todos os profissionais de educação física são desqualificados, que estão à mercê da indústria de anabolizantes e complementos vitamínicos e que o que eles passaram anos estudando na faculdade é mera ilusão.