quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A pontualidade pode salvar sua vida

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Algumas situações me deixam de cabelos em pé. Não vou bater o martelo dizendo que trata-se de uma cultura típica do Brasil, nem mesmo dos cariocas. Pode até ser, mas agora não importa, pois em maior ou menor grau, raciocínios como os que eu citarei existem pelo mundo todo, certamente. Indo direto ao ponto: por que as pessoas não conseguem entender que muitas vezes aquilo que é ordenado que elas façam – direta ou indiretamente por uma ameaça de punição – é para o próprio bem delas e dos que estão ao redor?

Isso me deixa muito indignado. Um exemplo clássico, para você visualizar logo o que quero transmitir, é o cinto de segurança. Existe periodicamente propaganda maciça em cima disso, e ainda existem as sinalizações pelas estradas e os guardas prontos para darem multas. Mesmo assim, parece que os cidadãos não entendem que aquilo é um serviço que visa preservar a vida e bem-estar de todos. Às vezes, parece que o sujeito está matutando que na verdade existe um super-vilão inimigo da paz e da liberdade, bolando planos maquiavélicos para nos tirar do sério, e seu mais recente plano é o maldito cinto. Sério, sejam coerentes: essa é uma medida de segurança para os motoristas e passageiros dos veículos, não tem motivo real para sermos antipáticos à tal regulamento, a não ser que o motivo seja nossos próprios egos não querendo ser curvar à uma regra imposta pelo Estado.

Há poucos dias, uma pessoa que estimo muito soltou um comentário que achei um tanto impertinente e que reproduz a exata confusão que expus acima. Ela dizia que em certo estabelecimento, os alunos eram privados de entrar em sala de aula se chegassem atrasados. Completou dizendo que era como voltar ao jardim de infância. Antes de analisar a regra do estabelecimento que ela criticara, vamos pensar na comparação com o jardim e o que ocorre nesta etapa de nossas vidas.

Os professores que dão aula para essas turminhas devem começar a introduzir às crianças os hábitos de uma boa vida em sociedade, principalmente em termos de meios urbanos. Um desses hábitos é a pontualidade. Conforme envelhecemos, vamos adquirindo cada vez mais afazeres que necessitam que organizemos bem nossa agenda, ou o dia-a-dia se tornará um caos! Imagine um pai que trabalha e faz faculdade. Ele deve acordar em determinado horário para que consiga se alimentar e se arrumar à tempo de levar o filho ao colégio. E esse compromisso, por sua vez, vai definir se sua chegada no trabalho ou faculdade em seguida se dará no horário correto. Nosso cotidiano, num mundo como o que vivemos, vira uma teia onde cada ocorrência é determinada por uma quantidade incrível de causas, tornando-se quase impossível determinar todas elas. Então, devemos honrar a pontualidade. É como aquele jogo de dominó, em que se apenas uma pecinha cair, todas as outras tombam em seguida.

Agora, pense no professor de uma universidade. Se o pai mencionado não conseguir se organizar, vai chegar atrasado sempre, vai entrar na classe, correndo o risco de atrapalhar a linha de raciocínio do professor que já iniciou a aula e o próprio aluno se prejudicará, pois pegará o bonde andando (matéria pela metade). Desse modo, acho que qualquer instituição tem o forte dever de criar esse tipo de regrinha anti-atraso.

Se você acha todo esse papo de pontualidade um hábito insuportável – a virtude dos entediados, como dizem alguns caras-de-pau – é porque, justamente, você não conseguiu transformar essa virtude num hábito, falha cuja qual pode estar lá no jardim de infância mesmo ou em algum acontecimento posterior que pode ter destreinado essa sua habilidade adquirida no período correto.

Como alguns posts aqui e aqui já denunciam, eu sou praticante de uma arte marcial tradicional japonesa, o aikido. Os japoneses costumam ser disciplinados em todos os sentidos, inclusive no de manter a pontualidade. Como pratico uma arte marcial própria dessa cultura, seria esperado que copiássemos a disciplina também nesse sentido. Mas não podemos copiar totalmente (pensando na federação à qual sou filiado, a FACERJ) porque os alunos não chegam na hora nem nos exames de faixa. Eles eram sempre marcados para começar cerca de 8 horas da manhã, entretanto, agora é pedido que cheguemos esse horário mas todos já esperam que vá começar em torno de 9 horas. Por que isso? Porque quando o cronograma era respeitado à risca pela organização, as pessoas se atrasavam. Assim, quem é pontual paga o preço, pois deve ficar sentado, esperando em torno de 1 hora para que as atividades finalmente comecem.


Como já deve ter ficado límpido e transparente, o que o hábito de usar o cinto de segurança e de ser pontual tem em comum, primeiro, é que os dois são hábitos. Em segundo lugar, os dois são atitudes que deveriam brotar naturalmente de cada um de nós depois de certo tempo de prática, pois só tem a beneficiar a nós mesmos e à todos que estão ao redor. Não vejo como ser assim pode fazer as pessoas saírem perdendo.